Pegue uma pessoa comum, pacífica, habitualmente calma. Meta-lhe entre as mãos um volante e sob os seus pés um acelerador. Lance-a em um engarrafamento, por exemplo, numa rua movimentada às 6 horas da tarde. É fácil encontrar. Olhe para ela... Você não a reconhece mais? Mas, está ali, um bruto humano, pálido, nervoso, impaciente, interpelando os outros automobilistas a golpe de insultos obscenos e rabugentos... Ela amedrontou você? Se transformou? Acrescente-lhe um celular e terá triplicado seu poder de matar. É como se você desse um revólver a alguém... Raros são aqueles que irão recusar a servir-se dele.
Réjean Ducharme, um escritor nascido em Quebec,
analisou particularmente bem esse processo que transforma o humano em
automobilista. Aliás, ele propõe não chamar mais automobilista, mas automóvel,
uma vez que o condutor forma um corpo com seu veículo:
Quando digo automóveis, quero dizer
automobilistas. O automóvel e o automobilista fazem parte de uma só e mesma
coisa: o automóvel.
Não se tem um automóvel; se é um automóvel.
Não se pode nascer automóvel; torna-se automóvel, de repente.
Não se tem um automóvel; se é um automóvel.
Não se pode nascer automóvel; torna-se automóvel, de repente.
Para finalizar, segue um poema composto pelo narrador do romance de Ducharme:
Os automóveis
Sobre o caminho de concreto,
Passam os homens e as mulheres
Enxertados nos veículos
Que apagam o sangue e a alma.
Passam no automóvel,
Esses homens loucos, essas mulheres loucas.
E se creem, ai de mim, aptos
A viver apenas de petróleo.
Eles não falam, buzinam.
E não andam: rolam.
Visto que com duas pernas eu funciono,
Eles riem; me chamam de galinha.
São amarelos, ou verdes, ou negros.
Entre eles, nada de segregação:
Mexem-se entre as calçadas
Lado a lado e a uníssono.
Estejamos atentos! Talvez isso soe absurdo para aqueles ainda programados a aceitar, sem nenhuma revolta, nem se quer indagações, o que está a sua volta. É inserido em um meio e, o que se passa nesse meio, lhe é absolutamente aceito, não importa sua moral. Senso critico? Que isso, meu jovem! Mas que saudade, hein? O domínio de um veiculo sobre um ser humano: Isso sim é um absurdo!
Mas o que fazer, você me pergunta, se não
quisermos nos tornar “automóveis”? A resposta é simples: sejamos ciclistas! O
ciclista é o oposto do “automóvel”: mesmo em cima de sua bicicleta, ele
conserva todo seu livre-arbítrio, pode ir aonde quiser, estacionar onde achar
melhor... Ele não ameaça constantemente a vida de quem está a sua volta. Está à
escuta do exterior: em vez de se blindar medrosamente se rodeando de aço, ele
interage corajosamente em seu meio ambiente – que evita, além disso, poluir.
ZERO emissão de CO2(Dióxido de Carbono), seu pulmão agradece. Os da sua futura
geração também. Raramente perde o controle de si, e se deixa guiar por dois
princípios: a liberdade e o respeito ao outro. Como notam, em tudo é benéfico.
Pode-se ver então que a escolha de um meio de transporte é, acima de tudo, uma escolha de vida: um estado de espírito. Recusar o carro é recusar um modo de vida que nos torna perigosos (para nós mesmos, para os outros e para o meio ambiente), é querer uma vida diferente daquela proposta pela grande massa de publicitários que nos impõem a sociedade moderna.
Não somente com palavras se muda a sociedade...
A todos aqueles que apoiam uma vida mais pacifica(para si e para o outro), a liberdade, o comunismo e o “ecologismo”, eu respondo: o CICLISMO!
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