"Este homem maduro, próximo dos cinquenta, sofre de um mal
ridículo, uma pequena infâmia que se desenvolveu sorrateiramente à margem de
sua consciência, nos cômodos inferiores do seu corpo e que até então merecera
dele, Heládio, não mais que uma meia atenção, ociosa e ocasional. Isso até
perto de um mês quando subitamente ela, então plenamente desenvolvida,
instalou-se no centro de seus pensamentos, afastando, por meio de sucessivas
contrações de dor, cada vez mais frequentes, o imenso e espraiado universo daquilo
que a linguagem cotidiana convencionou chamar "vida interior" mas que
nada mais é senão o próprio mundo debruçado sobre o homem, estreitado nos
limites pulsantes do tecido vivo. Em Heládio este estreitamento do mundo (ele
mesmo, afinal), adquiriu - por meio da sensibilidade ganha na doença(uma ferida aberta no ânus)- uma
consciência muito aguda de sua natureza duplicada. "